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  • Foto do escritorDennis Souza

Um Universo Inimaginável Muito Antes de Guerra Civil – Os Anos 80

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Saiba, ó, príncipe, que entre os anos em que os oceanos tragaram a Atlântida e os anos em que se levantaram os filhos de Mark Zuckerberg, houve uma era inimaginável, onde A Espada Selvagem de Conan só perdia para a Veja nas vendas, a Sessão da Tarde não passava filmes de cachorro que entra em time de basquete ou macaco que vira agente secreto, Atari era o máximo da tecnologia e todo supermercado tinha um boneco do Visão à venda. Essa era ficou conhecida pela história como anos 80.


Foi ali que passei minha infância. Para o bem ou para o mal.

Naqueles anos, onde Bolinha ainda tinha programa na TV, não existia o conceito de action figure (embora até hoje me escape onde está a “action” em bonecos que nunca vão ser manipulados, parados na casa de marmanjos, enfim), em matéria de super-heróis Marvel, o que tínhamos eram bonecos de plástico duro, sem nenhuma articulação e de cor única, que eram vendidos de 10 em 10 em saquinhos de supermercado. Eram os anos pré-coleção Secret Wars e como você pode notar, isso tudo foi bem antes da gourmetização dos brinquedos.

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A primeira série da coleção data de 1973 e tinha a formação mais bizarra do mundo, sente só: Capitão América, Falcão, Homem-Aranha, Batman, Robin, Zorro, Coyote, Fantasma e Fantasma montado a cavalo. Eita! Isso sim é que era Crise nas Infinitas Terras, era a Gulliver apresentando o conceito de Multiverso para a garotada dos anos 70. Na segunda leva de brinquedos, até o Tarzan entrou para o, vá lá, grupo. E para aumentar ainda mais a quizumba, a caixa da coleção tinha também na pintura o herói histórico espanhol El Cid. O boneco não vinha junto.

Depois, os personagens Marvel e DC foram separados em coleções próprias, o Fantasma ganhou uma série de brinquedos só sua, chamada África Misteriosa e o Tarzan pegou algum cipó rumo ao esquecimento. Era o fim do crossover.

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A série da DC foi descontinuada no começo dos anos 80, então é bem mais rara, já a Marvel, perdurou até o começo dos anos 90. O mix DC tinha Superman, Robin, Capitão Marvel, Aquaman, Mulher-Maravilha, Batgirl, Gavião Negro, Coringa, Pinguim e o Batman.

Mas não um Batman qualquer. O Batman mais medonho que eu já vi na minha vida.

Caralho.

Assim, parecia que alguém havia assassinado os pais de John Merrick, o Homem-Elefante, e ele resolveu combater o crime vestido de morcego. Parecia que a mansão Wayne na verdade ficava em Chernobyl.

Tudo bem que ele queria incutir terror no coração dos criminosos, mas precisava exagerar?

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Cada coleção vinha em duas versões, uma, em saquinhos com a coleção completa, em plástico duro, sem pintura, e outra, em cartelas com dois bonecos de vinil, levemente maleáveis,  com capa de tecido e pintados à mão. A pintura não primava exatamente pela perfeição, com alguns defeitos meio evidentes, elas…

Certo. A verdade é que eles pareciam ter sido pintados pelo Rob Liefeld com Mal de Parkinson, cara, aquela tinta escorria por tudo, não tinha uma área bem delimitada.

Mas pelo menos, os uniformes correspondiam aos que a gente via nos quadrinhos e…

Ok, a verdade é que todos os bonecos eram meio cagados. As poses não faziam nenhum sentido. E a cara de agonia deles. A dor. Meu deus, era muito assustador, parecia que eles tinham sido esculpidos pelo Hieronymus Bosch, todo mundo meio derretendo. Mas eram os heróis Marvel e DC, ainda que, digamos, longe da sua melhor forma. A gente brincava assim mesmo.

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Como curiosidade, a primeira série da coleção heróis Marvel tinha o Pantera Negra (com uma bizarra cueca azul) que depois foi remodelado como Surfista Prateado (até porque, né, os dois são quase a mesma coisa) e o Falcão com seu uniforme original, aquele dos tempos do Romitão, depois repintado para se adequar para sua versão (então) contemporânea. A coleção completa era composta por Namor no jogo de vôlei, Falcão, Hulk, Surfista Prateado, Duende Verde, Homem-Aranha, Thor, Homem de Ferro, Capitão América e… Visão. Cara, Visão. Quem conhecia o Visão? Quem é o Visão na fila do pão? Eu pensei até em dizer que esse mix não fazia nenhum sentido, mas aí me lembrei que a série começou com o Fantasma, o Zorro e o El Cid e achei melhor deixar pra lá.

Mais uma vez, a modelagem era muito zoada, o Thor, sei lá, tinha uma cara de Serguey, o Capitão América tinha a maior pinta de Jorge Ben Jor e o Visão, meu amigo, não bastava ele ser o Visão, o coitado ainda foi modelado com uma cara de batata. Parecia que o professor Phineas Horton (cacete, sou véio), na hora de modelar seu sintozóide, bebeu todas, errou a mão e pegou um saco de batatas em vez do Tocha Humana original.

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E ainda por cima, todos eles contra o pobre Duende Verde, aquele risonho sujeito em um planador que atira vergamotas nos outros. Era muita disparidade! Para dar uma força eu colocava sempre o Homem de Ferro do lado do Duende, afinal, os dois são milionários e ficava algo meio luta de classes, Marx aprovaria essa brincadeira. E colocava também o Visão de Batata, por que, bem, é o Visão. Who fucking cares?

Hoje eu sei que só teria um meio de deixar esse combate verdadeiramente equilibrado.

Colocar todos eles para enfrentar o Batman de Chernobyl.

Curiosamente, estes bonecos de plástico sem cor são mais raros que os de vinil. Como eram consideravelmente mais baratos, eram quase descartáveis, as crianças brincavam com muito menos cuidado com eles. Poucos sobreviveram e hoje valem o resgate de um rei no Mercado Livre, o que só prova que o lixo de ontem é o ouro de amanhã.

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Como se tudo isso não fosse suficiente, haviam ainda os bootlegs mexicanos, onde os bonecos eram repintados e viravam outros personagens, como Doutor Destino, Tocha Humana, Doutor Octopus e Caveira Vermelha.

Olhando esses brinquedos todos, eles são a metáfora perfeita do que era a infância nos anos 80. Era tosco, duro, imperfeito, mas ainda assim, imensamente divertido.

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