Muita gente aí nem tinha nascido quando Donatello, Michelangelo, Rafael e Leonardo deram as caras pela primeira vez. E se olharmos para os desenhos coloridos e os filmes engraçadinhos, fica difícil imaginar que a ideia original por trás das Tartarugas Ninja era bem diferente.
Mas como os desenhistas Kevin Eastman e Peter Laid chegaram até a ideia estapafúrdia de criar um quarteto de tartarugas adolescentes mutantes ninjas? Bem, o que se sabe é que tudo começou em uma reunião improvisada e sem muito foco. Ficamos aqui imaginando como teria sido a conversa entre os dois e fizemos este pequeno exercício criativo:
Imagine a seguinte cena:
Uma tarde qualquer nos EUA, em meados de 1983, Eastman e Laid estão debatendo sobre como seria o super-herói ideal:
– E se ele fosse uma coisa completamente diferente do que existe por aí? – Diferente como? – Sei lá. Na contra maré. Um herói soturno como Batman, só que mais irreverente. Mortal como Demolidor, só que mais estranho… – Ninja! Vamos criar um ninja! Demolidor enfrenta ninjas. – Isso. Ninja. Perfeito. Um ninja mutante. – Mutante tipo X-Men? – Não. Tipo, um mix de humano com algum bicho. – Gato! Ninjas e gatos têm tudo a ver. São silenciosos, predadores… – Sim, mas não sei. Tem que ser mais pirado. Que animal um ninja NÃO pode ser? – Pardal. – Não. – Coelho. – Isso! Se bem que, esteticamente, um coelho pode se parecer mais com um samurai. Mas guarda essa ideia. – Tá… Hã, sapo! – Saaaapo… Taí… – Um sapo mutante ninja! – Beleza. E ele faz o quê? – Combate o crime em Nova Iorque. – Como ele vive? Podia ter uma base de operações no meio do Central Park. – Subterrânea. Esgoto! Tipo uma Bat-Caverna cheia de conexões pela cidade toda. Estações de metrô abandonada, tubulações… O que acha? – Per-fei-to! – Hmmm… Ainda falta alguma coisa. – Um sapo mutante ninja que vive no esgoto e combate o crime? Não falta mais nada! – Falta, sim. Qual a história desse cara? Quantos anos ele têm? Nasceu homem ou sapo? – Nasceu sapo, mas foi exposto a uma substância radiativa que o transformou em um sapo-homem. – Sapo adolescente é melhor. E ele se criou sozinho? Onde aprendeu artes-marciais? – Com um mestre ninja, que é tipo uma figura paterna também. – Cachorro-mestre-ninja! – Rato. Esgoto e rato… sacou? Meio carrancudo e afastadão, igual ao Stick. (Mestre do Demolidor) – Saquei, saquei. É mais underground. Acho que estamos chegando a algum lugar aqui. – Pode crer. Que armas ele usa? Pensei num par de espadas. – Nunchaku. – Bastão. – Sai. – Todos esses! – Tá. Que nome a gente dá pra ele? – Brian. – Não, cara. Pensa num nome que nunca foi usado num super-herói. – Shakespeare! – Comercialmente complicado. – Caravaggio! – Quem é esse? – Pintor italiano. Michelangelo Merisi. – Michelangelo ou Caravaggio? – Caravaggio é o nome artístico de Michelangelo. – A gente tá falando do Michelangelo que pintou a Capela Sistina, certo? – Não. São dois pintores diferentes. – Tá. Não entendi, mas ok. Michelangelo é um nome legal. – Ou Donatello, que não é pintor, mas… – Depois a gente define. -… – Sabe o que eu tô achando? Que esse sapo mutante ninja podia ter um irmão. Ou três. Todos com nomes de artistas renascentistas. E cada um pode ser especialista em uma arma. Bastão, nunchaku, espada e sai. – Pô. Taí… Quatro irmãos mutantes adolescentes ninja, com personalidades diferentes, treinados por um rato no esgoto de Nova Iorque. – É isso! – É! – … – … – Sabe um outro bicho que não pode ser um ninja? – Qual? – Tartaruga. – Genial! – Tartarugas adolescentes mutantes ninja. Isso nunca vai vender.
De fato, houve uma forte resistência das editoras em aceitar o projeto, que era nonsense demais para uma época em que o realismo intelectual e tom sombrio lotavam as prateleiras de quadrinhos. Foi então que Laird e Eastman decidiram criar a própria editora, a Mirage Studios, e imprimiram cerca de 3 mil exemplares desta revista:
O sucesso veio quase instantaneamente, e quatro anos depois As Tartarugas Ninja já era uma franquia de sucesso. Perdeu um pouco da violência, do teor adulto e ganhou tons mais leves e coloridos para a TV. Passou pelas mãos de muitos artistas e cineastas, até o filme que estreia dia 16 de junho (Aliás, leu nossa crítica?).
A franquia é, acima de qualquer coisa, uma referência de originalidade e de como as ideias que são “contra a maré” podem prosperar.
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