Dennis Souza

12 de jun de 20192 min

Crítica | Dor e Glória: Um Almodóvar Aprofundado

Por: Marco Faustino

O novo filme de Pedro Almodóvar, Dor e Glória, nos apresenta o personagem central, Salvador
 

 
Mallo, um outrora famoso cineasta espanhol, em um momento complicado de sua vida. As
 

 
portas da idade mais avançada se escancaram à sua frente e as questões não ajustadas de sua
 

 
vida se apresentam de forma muito intensa: os problemas de saúde, as inúmeras dores, o
 

 
vazio criativo em que se encontra, a carência afetiva e a solidão. Particularmente quanto às
 

 
questões de saúde reveladas, estas seguem permeadas pelo seu lado hipocondríaco,
 

 
acentuando todas as suas dores, dando a impressão de que sua existência a partir daquele
 

 
momento deve passar inapelavelmente por todas os padecimentos e disfunções que se pode
 

 
chegar a sentir e sofrer. Identificado como um “alter ego” do próprio diretor, é instigante
 

 
imaginar quais dos problemas encenados poderiam ser de fato os que são ou foram
 

 
experimentados por Almodóvar durante sua vida. Ou serão todos?

O filme parece não se fixar em uma linha reta temporal de acontecimentos. A passagem do
 

 
tempo tende para uma certa circularidade através de um interessante mecanismo cênico que
 

 
não é simplesmente uma inserção de memórias do autor. Mais ao final este mecanismo é
 

 
revelado e nos permite entender algumas discrepâncias que surgem na obra. Afinal é tudo
 

 
cinema!

Este trabalho de Pedro Almodóvar mostra seu lado profissional mais maduro. Sem os exageros
 

 
situacionais de seus filmes dos anos 80, ainda assim ele nos revela cenas tocantes e momentos
 

 
da carga de erotismo que nos habituamos a ver em sua linguagem. É um trabalho maduro para
 

 
uma fase mais madura de sua vida, mas ainda assim as cores de seus filmes, parte importante
 

 
de sua assinatura e que o tornaram um dos grandes diretores contemporâneos lá estão: a
 

 
intensidade do vermelho, do laranja, do amarelo, e até do verde se apresentam para realçar e
 

 
reforçar momentos e estabelecer sensações. Estão lá para não esquecermos de que, apesar da
 

 
seriedade do tema apresentado, sua alma continua intacta como ser humano e como cineasta
 

 
que contribuiu de forma muito importante para colocar a Espanha, sua pátria, entre o rol dos
 

 
principais países do mundo do cinema.

Marco Faustino é ator, roteirista e dramaturgo.

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