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Crítica | Dor e Glória: Um Almodóvar Aprofundado

Por: Marco Faustino

O novo filme de Pedro Almodóvar, Dor e Glória, nos apresenta o personagem central, Salvador Mallo, um outrora famoso cineasta espanhol, em um momento complicado de sua vida. As portas da idade mais avançada se escancaram à sua frente e as questões não ajustadas de sua vida se apresentam de forma muito intensa: os problemas de saúde, as inúmeras dores, o vazio criativo em que se encontra, a carência afetiva e a solidão. Particularmente quanto às questões de saúde reveladas, estas seguem permeadas pelo seu lado hipocondríaco, acentuando todas as suas dores, dando a impressão de que sua existência a partir daquele momento deve passar inapelavelmente por todas os padecimentos e disfunções que se pode chegar a sentir e sofrer. Identificado como um “alter ego” do próprio diretor, é instigante imaginar quais dos problemas encenados poderiam ser de fato os que são ou foram experimentados por Almodóvar durante sua vida. Ou serão todos?


Antonio Banderas, que já atuou em algumas das produções de Almodóvar, tanto em sua juventude como em filmes mais recentes, nos brinda com uma excelente interpretação para este personagem complexo, cujo trabalho foi reconhecido com o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes deste ano. O elenco se completa com outros grandes nomes, incluindo artistas que já o acompanharam em outras produções: Penélope Cruz, Asier Etxeandia, Leonardo Sbaraglia, Cecilia Roth, Nora Navas, Julieta Serrano, entre outros.

O filme parece não se fixar em uma linha reta temporal de acontecimentos. A passagem do tempo tende para uma certa circularidade através de um interessante mecanismo cênico que não é simplesmente uma inserção de memórias do autor. Mais ao final este mecanismo é revelado e nos permite entender algumas discrepâncias que surgem na obra. Afinal é tudo cinema!


O desejo com conotação sexual que nos acompanha e até nos “martiriza” não poderia deixar de aparecer nesta obra apresentada como tendo um cunho biográfico. O primeiro desejo surge sem a compreensão do mesmo, porém sua intensidade é tamanha que traz com ele uma febre, uma febre que quase adoece. O desejo em Almodóvar é tão explicitado em suas obras que a produtora por ele fundada para empreender sua arte leva o nome “El Deseo”, e não é por acaso que o desejo já surge no menino ainda impúbere, uma alusão à sua própria experiência de vida e claro, também a de todos nós dentro de nossas circunstâncias.

Este trabalho de Pedro Almodóvar mostra seu lado profissional mais maduro. Sem os exageros situacionais de seus filmes dos anos 80, ainda assim ele nos revela cenas tocantes e momentos da carga de erotismo que nos habituamos a ver em sua linguagem. É um trabalho maduro para uma fase mais madura de sua vida, mas ainda assim as cores de seus filmes, parte importante de sua assinatura e que o tornaram um dos grandes diretores contemporâneos lá estão: a intensidade do vermelho, do laranja, do amarelo, e até do verde se apresentam para realçar e reforçar momentos e estabelecer sensações. Estão lá para não esquecermos de que, apesar da seriedade do tema apresentado, sua alma continua intacta como ser humano e como cineasta que contribuiu de forma muito importante para colocar a Espanha, sua pátria, entre o rol dos principais países do mundo do cinema.


Marco Faustino é ator, roteirista e dramaturgo.

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