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  • Foto do escritorDennis Souza

Resenha: Game of Thrones s06e08 – “No One”

Amizade. Um conceito de difícil definição, mas parte essencial da experiência humana. Que misterioso elo é esse que faz uma pessoa  segurar seus cabelos enquanto você passa mal em um banheiro público sujo? Ouvir pacientemente seus dilemas existenciais durante horas à fio no meio da madrugada? Sofrer ao seu lado e segurar sua mão em seus últimos momentos de vida?

Se no episódio “Blood of My Blood Game of Thrones se dedicou a mostrar a importância da família para a trama, em “No One” a série procura resgatar e pôr à prova os laços de amizade construídos entre seus personagens ao longo de tantas temporadas, os quais muitas vezes desafiam seus vínculos de sangue e até mesmo seus princípios pessoais. Em um lugar dizimado pela guerra e cuja história é marcada por recorrentes traições, amigos verdadeiros são uma commodity rara e que podem fazer a diferença entre a vida e a morte.

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O último recurso

E Arya sabe bem disso. A vimos no episódio anterior vagando moribunda, após ser vítima de uma tentativa de assassinato por sua rival, a Órfã. Já sabíamos que ela não teria a solidariedade dos habitantes de Braavos, acostumados a ignorar os recorrentes atentados provocados pelos Assassinos Sem Face. Sem alternativas, Arya encontra guarida nos braços de Lady Crane. Poderíamos dizer que a artista estava apenas devolvendo o favor – Arya já havia salvo sua vida – mas vemos nas conversas entre as duas o início de uma bela amizade, cultivada a partir de experiências traumáticas comuns. Para além da sobrevivência, Arya já havia encontrado por meio da veterana seu caminho de volta para seu legado.

É claro que estamos em Game of Thrones, e essa amizade nascente é interrompida num banho de sangue. Apesar de ser uma péssima assassina, a Órfã é uma ótima caçadora e nos brinda com uma cena angustiante de perseguição pelas ruas movimentadas da cidade. Não sei se foi intencional, mas tive um nítido déjà vu do jovem John Connor sendo caçado pelo T1000 em Exterminador 2, até pela cara de robô psicopata da assassina (fiquei até esperando tocar Guns N´ Roses). Eventualmente, sangrando e exausta, Arya é encurralada.

Corta a cena. Contra todas as expectativas, Arya derrota sua rival, e encara talvez pela última vez seu antigo amigo Jaqen H´ghar, o motivo de ela ter atravessado um oceano, ter aprendido e sofrido tanto ao longo de mais de uma temporada. Jaqen finalmente acredita que a jovem está pronta para ser “Ninguém”, e apta a adentrar os segredos dos Homens Sem Face. Mas Arya Stark de Winterfell tem outros planos. A sutil expressão de Jaqen não é de raiva ou decepção, mas daquele seu velho amigo que, orgulhoso, sabe que é momento dos dois seguirem caminhos diferentes.

Do outro lado do Mar Estreito, outro antigo companheiro de Arya segue em sua missão. Assim como a jovem Stark, Sandor caça os assassinos de um amigo que salvou seu corpo e sua alma. Seu rastro de vingança é subitamente interrompido por Beric Dondarrion e Thoros de Myr, levando a uma curiosa negociação sobre a proporcionalidade das punições a vilões na Idade Média (morte à machadadas? Decepar a mão? Só enforcamento?). É interessante como a brutalidade de Sandor, no ambiente de guerra de Westeros, é um ótimo instrumento para fazer novos “amigos”, que tentam insistentemente convence-lo a rumar para o Norte e enfrentar uma desconhecida ameaça (será que veremos “a Bela e a Fera”, Sandor e Sansa novamente juntos?). Mas convenhamos, quem não gostaria de ter O Cão do seu lado numa briga?

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A Solidão do Trono

O símbolo dos Lannisters não é o Leão à toa. Assim como os Reis da Floresta, os membros da milionária família são ensinados desde sua mais tenra idade a lutar pelo poder a qualquer custo, e se posicionarem como os líderes, aqueles que subjugarão os demais ao seu poder. O trono, no entanto, é um lugar solitário. Já vimos em “Blood of My Blood” que os próprios Lannisters são seus piores inimigos. Dessa vez, descobrimos que os filhos de Tywin tem uma grande dificuldade de manter e criar novas amizades.

Tyrion, por exemplo, sofre muito com isso. Vemos que desde o início da série “O anão mais famoso do Mundo” tem um grande anseio em ser aceito e reconhecido por seu carisma e inteligência, talvez para compensar sua “deformidade”. Exilado em uma terra estranha, Tyrion conseguiu se posicionar com sua perspicácia como o virtual líder de Meereen. Mas é notável seu pesar quando seu último “amigo” Varys deixa a cidade. A melancolia de Tyrion revela-se no desespero de transformar os circunspectos Missandei e Verme Cinzento no seus novos companheiros de bebedeira. O pobre anão chega até a revelar que seu sonho, contrariando sua ambiciosa casa, é ter uma pacata vinícola para servir “seus amigos mais próximos”. Que amigos, pobre Tyrion?

Sabe quem também não tem amigos? Cersei. Após anos destilando veneno e violência contra aliados e oponentes, a Rainha-Mãe finalmente parece pronta para pagar o preço por sua ambição desmedida. Ela se vê completamente isolada na corte, desprezada por seu filho e cada vez mais cercada pelas garras do High Sparrow. Cersei tem apenas Qyburn e O Montanha para se socorrer. Mas apesar de eficazes (e brutais), os dois são apenas lacaios, limitados a cumprir ordens. E talvez isso não seja suficiente para salva-la.

O mais emocionante reencontro da noite, no entanto, fica por conta de Jaime e Brienne. É curioso como a relação dos dois lembra muito uma versão distorcida das “canções de amigo” medievais, traduzida no amor platônico mútuo que, por não nunca se realizar, se corporifica apenas na intensa troca de olhares e palavras, com juras “românticas” representadas pela reafirmação da entrega de um presente único, no caso, a “Oathkeeper”. Ao carregar a espada de Jaime, é como se Brienne levasse com ela o símbolo de fidelidade do relutante nobre.

Jaime repete para Edmure o discurso de Cersei que os gêmeos são os únicos que importam no mundo, mas tenho minhas dúvidas. Longe da irmã e influenciado por Brienne, Jaime consegue o feito de resolver o sítio de Riverrun sem derramar (quase nenhum) sangue, como faria Cersei, nem trair ardilosamente ninguém, como seria o ensinamento de seu pai. Tendo ainda a chance de eliminar um inimigo de Cersei, Jaime “trai” sua família e deixa a Dama de Tarth escapar, despedindo-se talvez pela última vez de sua querida amiga.

O conto de Ser Jaime e Lady Brienne, se é que chegou ao fim, nos traz uma importante mensagem: talvez nossos melhores amigos não sejam aqueles que nos ajudam a sair de enrascada ou nos divertem em horas de lazer, mas aqueles que nos lembram das nossas melhores partes, que às vezes teimamos em deixar para trás. Em alguns raros casos, cruzamos em nossas vidas com pessoas que nos inspiram por palavra e gesto a nos tornarmos humanos um pouco melhores.

Lembre-se de manter essas pequenas jóias por perto, amiguinhos.

E eu e meus amigos vamos gostar?

Se for para dar boas risadas com uma agradável companhia, talvez sim. Pelo episódio em si, provavelmente não. Talvez eu tenha sido acometido por uma expectativa muito alta, mas “No One” me pareceu o mais próximo do que tivemos de um episódio “filler” nessa temporada. Ele pouco acrescenta à trama: já sabiamos da escolha de Arya e já estava claro que os planos de Cersei e Tyrion seriam frustrados. Novamente a trama de Jaime, assim como aconteceu na temporada passada, serve mais para ocupar tempo de tela do que para evoluir a história principal: as forças de Correrio são neutralizadas e o Blackfish morto, sem que isso influencie os planos de Sansa e companhia no Norte. No final, a trama de Correrio serviu “apenas” para promover o reencontro de Jaime e Brienne.

Às vezes, as séries precisam desses episódios para o desenvolvimento de personagens e para deixar a história “respirar”, mas não logo na reta final da temporada. Assim como Tyrion nos lembra, uvas que fermentam por tempo demais não viram vinhos saborosos, mas sim avinagram.

O episódio tem ainda algumas falhas de ritmo e omissões importantes. Apesar de engraçadas, as cenas do enforcamento, a rodada de piadas e o encontro entre Bronn e Pod são longas e juntas ocupam bastante tempo de tela. Por outro lado, duas cenas que seriam muito emocionantes, o duelo de Arya e a morte de Blackfish, acontecem offscreen! Sabemos dela apenas por comentários posteriores! É claro que cenas de combate são caras e de difícil filmagem, mas parece estranho essa economia numa produção como Game of Thrones. Sendo Bryan Cogman o diretor tanto desse episódio quanto do anterior, a impressão que dá é que deixaram a “equipe reserva” produzindo material de apoio, enquanto o “filé” da temporada ficou reservado para o time principal.

Nota: 6,5/10 escudeiros que apanham demais

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