The sound that you’re listening to is from my guitar
That’s named Lucille.
I’m very crazy about Lucille.
– B.B. King, Lucille.
Neste último episódio de The Walking Dead aconteceu a melhor introdução de personagem – na série – e o final mais conveniente possível – para a temporada; outro cliffhanger.
O que melhor para um final quando o final é incerto?
O gosto na boca dos fãs-telespectadores é amargo. Muitas aspirações e raivas e alegrias e comentários e críticas (é incrível o quanto todos são críticos ávidos com suas suposições sem fundamentos e sem partir duma visão de bom-senso de que a arte deve ser encarada como arte e não pode, de maneira alguma, ser manipulada por gostos exteriores fora da trama). Tanto as críticas positivas quanto as críticas negativas – e ao meu ver é no negativo que se vê o trabalho dando certo – houveram divergências nas opiniões e semelhanças nas conclusões.
O que, de fato, realmente importa?
Está lá, uma cena curta, um monólogo teatral dum ex-vendedor de carros usados com ar de “sabe tudo”; e o sentimento primordial, o medo. A sensação de agonia – filosoficamente introduzida nos cérebros de quem vê. A tensão mórbida e cômica trazida dum sorriso safado e destemido de quem está lá para fazer o que faz – sobreviver –, e não hesita.
“Ninguém é responsável de ser e ainda menos de ser o que é”, diria o escritor Cioran em seu livro Breviário de Decomposição.
Negan simplesmente é. Ele entra em cena como o personagem que falta para o Apocalipse se valorizar. “Todo homem esconde em si uma possibilidade de apocalipse, mas todo homem sujeita-se a nivelar seus próprios abismos”¹. Ninguém é mocinho. Ninguém é vilão. As pessoas são só pessoas. Cão come cão. E que sobreviva o melhor e o mais forte, se puder e como puder.
A partir deste episódio – e também dos últimos que focavam nos Salvadores – dá para notar evidentemente o poder de Negan.
As forças movimentadas, tanto nos bloqueios das estradas quanto no círculo final da emboscada – e na lealdade do grupo – denotam a potência megalomaníaca do personagem em questão.
Pouco se sabe sobre o passado e o presente de Negan (a não ser que ele não bate em mulheres, negros, crianças ou feridos, pela conduta e honra de homem) mas, atualmente pode-se dizer que é estiloso e tende bastante para semelhanças com personagens Tarantinescos.
Apesar das especulações infundadas e, obviamente, suposições tiradas a partir das incertezas, devo dizer que, a partir de minha própria análise, a morte nesta última cena está certa para: Abraham; que é o único, em todos os momentos, que levanta o peito e aceita o destino – desde antes, aliás – e, justamente pelas tendências psicopatas de Negan, alguém que o enfrenta, como fez – com o olhar e atitude – Abraham, é tomado como alguém que desafia sua posição (sua “vontade de potência”, Nietzche diria); e por isso não pode sair impune, tem que pagar. Obviamente, posso estar enganado.
Como um ótimo negociador e ex-vendedor, Negan está na cena vendendo. Vendendo a vida. A vida do grupo de Rick. E o preço da vida é a morte.
Lucille, baby, satisfy my heart,
I played love with you baby, and gave you such a
Wonderful
Start.
– Little Richard, Lucille.
¹ Cioran; Breviário de Decomposição, pg 61.