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Crítica | Doutor Sono – Um brilho mais tênue

Por Marco Faustino.

O filme “Doutor Sono”Doctor Sleep em seu título original – é a esperada sequência do filme “O Iluminado”, ambos baseados em Best Sellers do aclamado escritor Stephen King, um mestre de histórias de terror e suspense mundialmente conhecido. O livro, com o mesmo título, havia sido lançado em 2013.

Por sua vez, o livro “O Iluminado”, lançado em 1977 nos Estados Unidos, foi adaptado para o cinema em 1980. Com direção de Stanley Kubrick, um dos mais respeitados diretores de cinema de todos os tempos, e protagonizado por ninguém menos do que Jack Nicholson em um de seus mais relevantes trabalhos, “O Iluminado” – The Shining – foi um sucesso de crítica e bilheteria, sendo considerado um dos maiores clássicos do gênero de terror e suspense de todos os tempos.

Com todos estes predicados incidindo sobre a obra original, podemos considerar o diretor e roteirista de Doutor Sono, Mike Flanagan, no mínimo bastante audacioso para querer dar sequência a uma obra tão premiada e tão bem considerada no mundo do cinema. Ou seja, os riscos de não se conseguir agradar minimamente a crítica e o público são enormes e possivelmente foi um dos grandes desafios de consciência enfrentados por ele quando de sua decisão por desenvolver este empreendimento.

A continuação da trama nos mostra o que aconteceu com a vida de Danny, o menino “iluminado” que dá mote ao primeiro filme. Voltando à história original, Danny tinha cinco anos em 1980 quando ficara hospedado com o pai e a mãe num isolado hotel das montanhas do Colorado durante o inverno, quando este permanecia fechado para hóspedes. O isolamento acaba por desencadear um processo psicótico no pai, personagem de Jack Nicholson, que passa a ser influenciado pela presença de fantasmas existentes no hotel, “almas penadas” vítimas de assassinatos ocorridos no local. Esses fantasmas são pressentidos pelo menino, por conta de seu dom de “iluminação”, que passa a ser atormentado pela imagem dos mesmos. Ao final do filme de 1980, o menino e sua mãe sobrevivem à loucura do pai, e passamos a saber então o que ocorreu com sua vida a partir das narrativas de “Doutor Sono”.

Dan Torrance, agora adulto com mais de 40 anos, é interpretado por Ewan Macgregor, estrela de “Trainspotting” e “Star Wars” dentre outros sucessos. Danny representa o papel do chamado “loser” da cultura de fundo puritano e hipócrita da sociedade americana: alcoólatra, desempregado, sem família e tendo sido incapaz de ter construído algo palpável em sua vida, o que nos revela as grandes dificuldades pelas quais o personagem passou ao perder a mãe ainda na adolescência e não ter conseguido conviver saudavelmente com os desafios que seus dons de iluminado lhe traziam. Em “Doutor Sono” tomamos conhecimento que Danny não apenas é capaz de ver imagens de pessoas mortas, ler mentes e ter premonições, mas também consegue ter contatos mais intensos com o outro lado. Um espírito amigo e aliado, Dick Halloran, um funcionário morto no antigo hotel, é um espírito orientador presente em vários momentos na vida do atormentado protagonista.

Depois de se afastar de sua antiga vida e fixar-se numa pequena cidade do interior do país, em New Hampshire, Danny consegue se restabelecer a partir da amizade que faz com um outro rapaz da cidade, passando a participar de um grupo de Alcoólicos Anônimos do lugar e até encontra um emprego em uma espécie de hospital/ asilo.

Como apelo dramático, o filme traz em cena a existência de um grupo de seres bem estranhos que se denominam a Irmandade do Nó Verdadeiro. São liderados por Rose Cartola, – Rebecca Ferguson – uma misteriosa mulher que tem esse apelido devido a um chapéu velho e esquisito que sempre traz à cabeça. A aparência de tom amigável que Rose Cartola exibe é apenas um disfarce à sua verdadeira natureza e a de seu grupo: eles compõem uma espécie de gang de vampiros quase imortais, mas que para continuar a existir dependem de extrair a essência do brilho dos indivíduos “iluminados” como Danny. Essa essência é obtida nos momentos em que estes sentem dor e muito medo, o que leva esses vampiros energéticos a seqüestrar e torturar até à morte as vítimas que conseguem identificar, extraindo assim, o brilho na forma de vapor que seus corpos emanam no sofrimento.

Paralelamente, Danny passa a fazer contato com uma garota de 13 anos que, por ter um poder de sensitividade muito intenso, consegue perceber sua existência, mesmo vivendo longe daquela cidade. Abra Stone, a garota iluminada vivida por Kyliegh Curran, é uma poderosa sensitiva que ainda está aprendendo a dominar seus poderes, mas acaba sendo percebida pelo grupo de sugadores que querem localizá-la para conseguir extrair o seu intenso vapor energético, o que garantirá a existência de seus integrantes. Ela sabe das atrocidades que o grupo do Nó Verdadeiro está realizando e, por seu lado, decide pedir a ajuda de Danny para interromper os assassinatos.

O desenvolvimento da trama acaba por levar os personagens até ao abandonado Hotel Overlook, local onde os acontecimentos do filme de 1980 aconteceram. Lá, os velhos fantasmas não estão adormecidos e se juntam aos demais personagens para dar um toque mais trágico aos desdobramentos da película.

O filme que acaba de ser lançado não é ruim. Tem boas sequências que de fato podem causar mesmo muita tensão e sustos ao público, como seria esperado de um bom thriller. A atuação de Ewan Macgregor é competente e mantém o nível dos trabalhos que o ator está habituado a entregar. A trilha sonora e a fotografia são bem exploradas e de bom nível, sendo muito boas as reconstituições que foram feitas dos cenários que remetem ao antigo hotel e suas adjacências. De fato, em vários momentos somos tomados pelas lembranças que temos das imagens do filme original. Uma espécie de deja vu propositalmente criado para que nossos cérebros se dêem mesmo conta de que já vimos aquelas cenas anteriormente e que vamos mergulhar novamente naquela realidade. Aliás, as cenas de reconstituição dos salões e do menino circulando com seu velocípede pelos corredores são muito apropriadas a toda ambientação trazida.

Por sua vez, o próprio fato da sequência ter se utilizado do subterfúgio de trazer o hotel novamente em cena nos deixa algumas dúvidas. Teria sido mesmo necessário desenterrar os mortos do passado? Os novos personagens trazidos já não seriam suficientes para azeitar a trama? Ou, fazendo uma consideração oposta a esta, mantendo-se o retorno do hotel, seria mesmo necessário trazer todos esses novos personagens à baila? Os conflitos existências e as lembranças do pesadelo vivido por Danny não seriam suficientes para serem explorados? Mais ainda, será que estamos diante de uma continuação necessária, alguma coisa que vai atribuir algum novo “brilho” a uma história do passado que já está inclusa entre as grandes obras cinematográficas de todos os tempos?

É claro que só o tempo dirá, mas me arrisco a dizer, até pela comparação com experiências anteriores, que dificilmente “Doutor Sono” alcançará o nível de relevância para brilhar ao lado de seu antecessor. Por outro lado, ainda assim é um bom filme e merece ser visto pelos fãs do gênero, tanto por suas qualidades técnicas como por conta de toda relevância da história do hotel mal assombrado e do menino iluminado.


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