O Filho de Saul (Saul fia), longa escrito e dirigido pelo húngaro László Nemes e que concorre ao Oscar de melhor filme estrangeiro, cutuca na talvez mais profunda chaga da humanidade, o holocausto.
A trama acompanha a trajetória do judeu Saul, que precisa se desdobrar para dar um enterro digno ao (quem se supõe ser) seu filho, morto nas câmeras de gás. Para isso, Saul se aproveita dos “privilégios” de ser um sonderkommander (grupo de judeus convocados para executar serviços dentro dos campos de extermínio, em troca de poucos meses a mais de vida).
Com takes longos e fechados, que trabalham a atmosfera de aperto e completo descaso à vida, o filme percorre praticamente todos os setores do complexo e não poupa o expectador ao mostrar a rotina surreal de um campo de concentração, onde a morte certa é questão banal e tema sem importância, tanto para quem mata como para quem espera morrer.
O grotesco só não é maior que a esperança. Saul, magistralmente interpretado por Géza Röhrig, beira entre a loucura e a busca por um sentido religioso, enquanto empilha os corpos de seu próprio povo.
O Filho de Saul documenta com uma fidelidade incômoda as atrocidades da Segunda Guerra, que destrincha todos os pormenores do dia a dia em um campo de extermínio. Desde a cadeia hierárquica aos pratos de feijão que eram servidos a quem dispusesse a trabalhar, tudo é detalhado com impressionante cuidado, sensibilidade e realismo.
Mesmo denso e perturbador, o longa tem força para prender a atenção do expectador médio ao longo de mais de uma hora e meia, e é altamente recomendável para quem quer aumentar o leque de referências.
O Filho de Saul tem nota 7.9 no IMDB e ganhou o Grande Prêmio no Festival de Cannes 2015.